Cinco metros abaixo da superfície do Mar do Norte, próximo à ponta sul da Noruega, o primeiro restaurante subaquático da Europa está pronto. A estrutura de 33,5 metros de comprimento, uma laje transversal de concreto parecendo um periscópio submerso, foi submersa em julho de 2018 e completará um ano em março.
O restaurante, chamado Under (embaixo, na tradução livre), é a criação da firma norueguesa Snøhetta, que fez seu nome com projetos como a Bibliotheca Alexandrina no Egito, a Ópera de Oslo, o Memorial & Museu Nacional do 11 de Setembro e a reforma da Times Square em Nova York.
O Under acomoda até 40 pessoas, protegido por paredes de concreto com meio metro de espessura. Ele conta com uma área interna total de cerca de 500 metros quadrados, distribuídos em três níveis. A instalação oferece vistas subaquáticas únicas do ambiente marinho do entorno através de uma janela panorâmica de 11 metros de largura.
“O Under é uma progressão natural da nossa experimentação com limites”, disse o fundador da Snøhetta, Kjetil Trædal Thorsen, em um comunicado. “Como um novo marco para a região Sul da Noruega, o Under propõe combinações inesperadas de pronomes e preposições e desafia o que determina a colocação física de uma pessoa em seu ambiente.
“Neste edifício, você pode se encontrar debaixo d’água, sobre o fundo do mar, entre terra e mar. Isso oferecerá novas perspectivas e maneiras de ver o mundo, tanto além quanto abaixo da linha d’água”, acrescentou.
Como o Under submergiu
O restaurante foi construído em cerca de seis meses sobre uma barcaça perto da costa e depois rebocado para a posição – a cerca de 100 metros (600 pés) de distância – por uma embarcação de elevação. Para submergir a estrutura, foram colocados dentro dela contêineres cheios de água, antes de prendê-la ao fundo do mar com um total de 18 pontos de ancoragem.
“Foi uma operação delicada, já que o espaço livre para o encontro dos parafusos era de apenas cinco centímetros”, disse Rune Grasdal, arquiteto sênior da Snøhetta, em entrevista por telefone.
Mais da metade da estrutura está submersa, e os clientes têm acesso a ela por uma passarela de vidro que faz a ligação entre a costa e a entrada, que fica a nível do mar.
O Under é feito de concreto armado, para suportar as duras condições encontradas neste local da costa norueguesa. “O primeiro problema é a pressão da água, pois estamos a cinco metros abaixo da superfície. Mas o maior desafio são as ondas”, explicou Grasdal. “O vento e as ondas são intensos aqui. Para suportar todas essas forças, a construção é ligeiramente curvada, para se ajeitar melhor às ondas, e espessa: meio metro para o concreto e cerca de 30 centímetros para as janelas de acrílico”, disse Grasdal.
Um projeto simples
A decisão de posicionar o restaurante em uma área agredida pelos elementos foi intencional. “Quando o cliente veio até nós, ele já havia feito alguns esboços em outro local próximo ao atual, mas nós o convencemos a construir a algumas centenas de metros de distância, onde o mar é de fato mais agitado. Achamos que isso retrataria melhor a natureza da área e acredito que é isso que o torna mais espetacular em comparação com outros restaurantes subaquáticos do mundo, pois eles estão em áreas muito controladas”, disse Grasdal.
O cliente, os incorporadores Gaute e Stig Ubostad, também administra um hotel a uma pequena distância do restaurante. Ambos estão na região de Lindesnes, lar do farol mais antigo da Noruega, uma atração turística popular localizada na ponta mais ao sul do continente. Chegar aqui não é muito fácil: a melhor forma é pegar um pequeno vôo de Oslo até Kristiansand, o aeroporto mais próximo, a cerca de uma hora de carro. Grasdal contou que um serviço de barco está em andamento.
O projeto da estrutura também ficou sujeito a várias revisões. “Inicialmente, ficamos muito tempo em projetos muito complicados, mas após uma longa discussão e muitos modelos diferentes, acabamos fazendo as coisas de uma maneira muito mais simples. É só um tubo de concreto que leva as pessoas da terra para o mar, muito simples. Quando chegamos a essa conclusão, foi realmente um alívio”, disse Grasdal.
Um leve toque
Para garantir a segurança dos clientes, um estudo foi realizado para analisar a propagação e a carga das ondas. A estrutura de 2.500 toneladas foi projetada para suportar os incidentes mais extremos. Os dados também serão enviados a equipes de pesquisa que estudam biologia marinha e o comportamento de peixes. Foi feito um trabalho para recuperar as condições existentes antes do transtorno criado pela submersão da estrutura, e a concha de concreto foi projetada para atrair mexilhões a se agarrarem a ela e se mesclarem à natureza ao redor.
Da janela principal da área de refeições, com 4 metros (13 pés) de altura, os clientes poderão observar uma variedade de peixes e criaturas marinhas, incluindo focas e lagostas. Fundamental para essa vista é a iluminação, que foi cuidadosamente projetada tanto para o interior quanto para o banco de areia do lado de fora. “A iluminação externa é muito importante, pois estará escuro no inverno e à noite e, sem luz, você só veria o reflexo do restaurante na janela”, disse Grasdal.
A iluminação interna é suave e discreta para evitar esses reflexos, e as cores são escolhidas nesse sentido, com madeira de carvalho e tecidos cobrindo as paredes para evitar manchas brancas chamativas.
“É uma sensação mágica estar submerso em uma sala grande como esta e ver o mar através da enorme janela. E o surpreendente é que alguns dos desenhos que fizemos ilustram muito bem como será”, afirmou Grasdal.
No ano passado, o restaurante demonstrou ser tão popular que apenas os lugares da lista de espera estão disponíveis. Segundo Grasdal, a melhor forma de planejar uma visita é checar a previsão do tempo. “Acho que a experiência mais emocionante será visitar o restaurante durante um mau tempo”, declarou.
“Será sensacional ver a superfície do mar sendo quebrada pelas grandes ondas e pela chuva, criando uma visão muito dramática; mesmo assim, você se sentirá seguro e relaxado dentro do restaurante”.
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