Existem histórias reais tão inacreditáveis que só o cinema é capaz de explicar com a devida ênfase. Por exemplo, uma das situações mais desesperadoras que um ser humano pode passar é não conseguir respirar. Agora imagine ficar sem respirar em uma profundidade absurda no escuro do oceano? Esse é o tema de “Last Breath“, que foca em um fato que aconteceu em 2012 – mais especificamente a situação vivida pelo mergulhador Chris Lemons.
O caso aconteceu no mar do Norte, em um navio de apoio ao mergulho em campos de petróleo localizados a pouco mais de 200 quilômetros da cidade de Aberdeen, na Escócia. A embarcação foi construída com um sistema de saturação pressurizada, composto por câmaras que auxiliam os mergulhadores a chegarem no leito marinho. O trabalho de Lemons e seu companheiro David Yuasa era remover uma peça da tubulação e colocar outra peça no lugar. Ao tentar efetuar o serviço, acontece um problema e o equipamento de mergulho quebra, largando Lemons no fundo do mar com apenas cinco minutos de oxigênio.
A partir do momento que o chamado “cordão umbilical” se rompe, surge na tela um relógio apresentando o período em que Lemons está à deriva, iniciando uma corrida contra o tempo para ajustar o rumo do navio para chegar até o mergulhador antes que aconteça o pior. Com a excelente construção de clima, dá tempo do espectador se preocupar com o protagonista e sentir a mesma tensão que a equipe que tentava realizar o resgate estava sentindo. Trazendo novas perspectivas para a história, o roteiro propõe uma dinâmica envolvente, emocionante e tensa.
O documentário se divide entre imagens reais dos mergulhadores, entrevistas com outros profissionais e cenas reproduzidas com os próprios personagens. Um dos mergulhadores descreve o trabalho como uma ida ao espaço, só que no fundo do mar. De fato, em seus principais momentos de tensão, “Last Breath” tem cenas parecidas com certos momentos de “Gravidade” (2013) de Alfonso Cuarón.
Os diretores tomam cuidado no primeiro ato para situar o espectador a todo o momento, explicando termos náuticos e situações vividas pelos mergulhadores. A montagem se preocupa em demonstrar o contexto de cada entrevistado em determinado ponto da história. Apesar de ser didático, é importante para situar a função, que realmente é complexa. Dosando bem seus pontos de êxtase, a trilha sonora também trabalha muito bem com crescimento de expectativa e com silêncio, aumentando a sensação da dificuldade de respiração.
“Last Breath” é uma experiência que precisa ser sentida. Mérito para Parkinson e Da Costa, que conseguiram apresentar com detalhes a personalidade do seu protagonista em pouco menos de 90 minutos. Um exemplo de história real tão incrível que poucas ficções poderiam alcancar sem perder o sentido. Com delicadeza para apresentar os fatos e sem se perder em meio ao melodrama, o documentário é uma daquelas obras que nos deixam tenso do início ao fim.
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