Foto de capa: Fauna, flora, lazer da população e treinamento de mergulhadores em risco – Foto: Acquanauta Centro de Mergulho
Agrônomo e mestre em Sistemas Costeiros e Oceânicos. É coordenador geral do Programa Recuperação da Biodiversidade Marinha (Rebimar) da Associação MarBrasil e professor na pós-graduação em Biologia Marinha pela Universidade Espírita (PR)
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A Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) iniciou, em 4 de julho, uma operação de drenagem da pedreira do Maringá, popularmente conhecida como pedreira do Orleans, em Campo Magro, na Região metropolitana de Curitiba (PR). O intuito é retirar toda a água a fim de manter o nível do reservatório do Passaúna para abastecimento da população, o que é evidentemente importante.
Porém, segundo informações colhidas com os próprios engenheiros da Sanepar, há outras pedreiras que, juntas, possuem volume de água acumulada similar ao da pedreira do Orleans. Ainda segundo a Diretoria de Operações da Sanepar, já há a possibilidade de uso da água de reservatório da Repar (Petrobrás).
Natureza e o uso com pouco impacto
A área da pedreira do Orleans possui uma qualidade ímpar e é a única das pedreiras da região que já desenvolveu um ecossistema. Nela existem cardumes de peixes nativos, incluindo carás, cascudos e muitas traíras. É também lar de aves aquáticas, como uma família de marrequinhos-mergulhões que, recentemente, teve filhotes. Já foram avistados, inclusive, pacas, lontras, capivaras, patos selvagens e garças.
Ainda cabe citar que a beleza do lugar é realmente única na região, atraindo muitas pessoas para a prática de atividades ao ar livre. Nos fins de semana, o local fica repleto de famílias, ciclistas, corredores, praticantes de rappel e mergulhadores.
Um grupo de mergulhadores cuida do local e ministra treinamentos, inclusive, para a Policia Militar do Paraná, em especial para corporações dos Bombeiros, como o Grupamento de Operações de Socorro Tático (GOST), além de grupos da Policia Civil como o Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial (TIGRE) e o Grupamento de Operações Especiais (GOA), com finalidade de treinamento de mergulhadores de segurança pública.
Existem alternativas!
Pedimos que a utilização de outras pedreiras seja avaliado pela Sanepar o mais rápido possível devido à fragilidade ambiental do local.
Propomos que a drenagem das águas acumuladas da pedreira do Orleans seja substituída pela drenagem das águas de outras fontes da região.
Mergulho
O local está inserido em uma paisagem já altamente modificada pelo desenvolvimento urbano, constituindo então um importante refúgio para a fauna e flora da região. A área alagada da pedreira também representa um grande presente para a formação de mergulhadores brasileiros e sulamericanos. Um dos maiores centros de treinamento de mergulhadores do país utiliza a área para formar mergulhadores em vários níveis, desde os básicos (iniciantes) até os técnicos (descompressivos). Isso se dá pelas distintas profundidades (degraus) e pela excelente qualidade da água. Não só o cidadão comum se beneficia deste oásis para o mergulho, mas também mergulhadores científicos são ali formados. Membros de instituições federais e particulares de ensino superior e de ONGs, como biólogos, oceanógrafos, engenheiros ambientais, físicos, geólogos e arqueólogos, estão entre alguns deles.
Além do treinamento e da formação de mergulhadores científicos, algumas pesquisas já são realizadas no local. Destaca-se a sobre técnicas de descompressão, com orientação do Laboratório de Mergulho do Departamento de Física da Universidade Federal de Viçosa (MG).
O estado do Paraná também tem utilizado o local para treinamento das suas forças de segurança pública, no que tange o ambiente aquático. As nossas honrosas polícias Civil e Militar, principalmente os quadros do Corpo de Bombeiros, tem todos os seus treinamentos, formação para praças e oficiais, e atualizações de mergulhadores realizados no local.
Toda essa atenção à prática do mergulho recreativo, científico e profissional se deve pelo esforço em construir, na região de Curitiba, um local que disponha de um aparato e ferramentas para tais formações. A pedreira do Orleans possui circuitos subaquáticos e plataformas para treinamento em distintas profundidades, o que é fundamental para o treinamento de diversos níveis. Há também no fundo diversos veículos adquiridos em ferro velho e recebidos através de doações.
Com estas estruturas são executados treinamentos de resgate e de reflutuação, protocolos de mergulhos em ambientes com teto através de cabeamentos fixos. É importante citar que a pedreira possui o único simulador de naufrágios do hemisfério sul, e um dos únicos no planeta.
A todos esses atrativos somam-se a beleza cênica e a vida silvestre do local. Distintos tipos de peixes de água doce, répteis, aves e outros animais silvestres se interagem em um ambiente absolutamente preservado, que se regenerou no local após o encerramento das atividades econômicas da antiga pedreira. O potencial turístico e ambiental são tremendos, situados a pouquíssimos quilômetros da cidade de Curitiba. Um ambiente que poderia ser transformado em um parque natural de atividades aquáticas, por exemplo, ou com potencial para ser simplesmente preservado como área de preservação permanente (APP).
Apelo
Este é um apelo que a Associação MarBrasil, o Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais, a SPVS – Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental e o Observatório de Justiça e Conservação à Sanepar. Solicitamos que ao menos apreciem este relato e verifiquem o local. Certamente, perceberão que aquela área já se transformou em um ambiente com vida, integrado com ecossistemas em desenvolvimento.
Solicitamos que outras áreas inertes da região sejam consideradas para a finalidade de drenagem, diminuindo o impacto socioambiental e chegando ao mesmo resultado de abastecimento dos reservatórios da cidade, conforme dados do corpo técnico; dos engenheiros da Sanepar.
Um eventual aumento no custo de exploração de outras águas deve ser mensurado, porém ponderado frente ao exposto.. Temos em mente que o impacto da drenagem da pedreira do Orleans será desastroso frente a um custo talvez apenas um pouco maior da operação de drenagem de outras pedreiras da região.
Clamamos por urgência, pois as bombas drenam aproximadamente um metro de coluna de água ao dia. Infelizmente, em poucos dias todo o aparato para formação de mergulhadores pode já estar exposto e inutilizável, sem contar no impacto ao ecossistema lá estabelecido.
Acredito que o municipio e o estado tem que dar ouvido a estas colocações, nao sejamos surdos a estas colocacoes de especialistas.
Greca e Ratinho…….nos ajudem.